O ócio e o que aprendi dele.

            Antes de ler sobre o assunto, minha percepção sobre ócio, tempo livre e lazer era unificada e recheada de preconceitos. Confesso que ainda tenho sérias dificuldades de dedicar-me às referidas  sem que não sinta culpa, pressa ou tenha sido convencida por alguém.

            Consegui chegar ao extremo de transformar meus momentos de lazer em faturamento, já que dedicava minhas horas de monotonia a bordados e artes manuais. Fora isso, nada mais posso chamar de lazer em minha vida. Ócio então, desconhecido. O ditado popular “enquanto descansa, carrega pedra” é meu lema.

             A partir desta experiência de vida, deparo-me com o desafio de perceber a vida diferentemente, na teoria e na prática. Ri comigo mesmo, pela ironia que o acaso me apresenta, pois pensar na possibilidade de parar já é um sofrimento. No entanto, a leitura traz a reflexão necessária para este momento.

            Interessante perceber como somos levados pela multidão, pela ideologia do mercado, pelas tendências culturais e momentos econômicos do lugar onde vivemos. Acostumamos no ritmo imposto pelo sistema, corremos sempre para algum destino, com a sensação de atraso, para não perder oportunidades, para não ser considerado fracassado, para não ser desaprovado como profissional.

            Como então perceber este tempo que escraviza e liberta ao mesmo tempo? Como fazer para administrar de forma saudável uma agenda impregnada de cultura consumista, onde o dinheiro e o tempo tem o mesmo valor? Vejo que primeiramente, a mudança passa pela percepção do que é realmente importante, depois da decisão de frear o que nos arrasta para uma roda viva alucinante e interminável. Sim, pois que mais poderá ser feito se não buscarmos dentro de nós  os valores para o equilíbrio e o pleno desenvolvimento?          

Certamente que vivemos numa sociedade que valoriza o trabalho e o consumo, onde o ócio é visto como “improdutividade”, “falta do que fazer”, mas sua necessidade é real e imprescindível. Talvez tenhamos algumas respostas às doenças contemporâneas da mente, se começarmos a avaliar a má administração do tempo, da rotina e das prioridades.


            O começo da mudança destes paradigmas consumistas, pós- industrialização, será iniciado dentro de cada um nós, por necessidade e por constatação de uma vivência vazia de experiências subjetivas, estéticas, gratas e humanizadas, pois como já dizia o poeta, “ é no lento que a vida acontece".


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